14.5.04

PALESTINA, UMA VEZ MAIS
Bom, parece que o computador me vai permitir o luxo de um post antes de bloquear pela nonagésima vez... aproveito, por isso, para deixar aqui algumas notas sobre Palestina, de Joe Sacco, cuja versão portuguesa acabei de ler há dias (isto é o que se vai escrevinhando à mão, enquanto se espera por um computador a funcionar normalmente para escrever textos um bocadinho mais elaborados).

- Há sequências de planos verdadeiramente impressionantes, capazes de rivalizar com algumas das melhores reportagens fotográficas feitas em cenários de guerra e ocupação. Os grandes planos dos diferentes campos de refugiados palestinianos, seguidos por sequências de rostos que falam da ocupação e da miséria na primeira pessoa são memoráveis.

- Joe Sacco é o repórter de serviço e assume a responsabilidade de todas as tarefas, de todas as viagens a sítios onde nunca pensou conseguir chegar e onde, apesar disso, vivem pessoas capazes de o acolher com um copo de chá quente por entre a miséria mais odiosa. Esta presença na primeira pessoa tem cenas com bastante humor, pese embora a situação, nomeadamente quando o intrépido repórter Joe Sacco assume o facto de estar cheio de medo e de mal conseguir disparar a máquina fotográfica durante um raid rotineiro do exército israelita. Esta vertente humana de Sacco ajuda a transformar todas as conversas que mantém e todas as suas opiniões em algo mais profundo do que a visão profissional do jornalista de guerra.

- Palestina não é um livro imparcial, e ainda bem que não o é. De facto, Joe Sacco decide, desde o primeiro momento, que as suas viagens decorrerão por entre os vários campos de refugiados palestinianos e não por entre as ruas dos bairros judeus de Jerusalém. Ainda assim, não se encontram apelos ao ódio, à intifada ou às bombas, como pensam algumas pessoas antes de se dignarem a folhear Palestina. Procura-se sempre compreender as origens do conflito e há, em mais do que um episódio, o confronto quase sentimental com alguns soldados israelitas pouco convencidos da necessidade de manter os palestinianos fechados em campos. A parcialidade está toda lá, claro, mas quem ler perceberá a lógica e uma certa impossibilidade de se ser totalmente imparcial num conflito que envolve o que este envolve. A cena das oliveiras cortadas, algures no primeiro volume, é um bom exemplo?

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